domingo, setembro 30, 2007

Direitos Humanos, Esquerdos Humanos, Berros Humanos

No mês que hoje finda, o Human Rights Watch noticiava algumas situações que me deixam pasmo. Vivemos no século XXI (não interessa o calendário que nos reje, mas a época na qual vivemos) e, ainda (???), temos que ler notícias dessas...
  • A China prendeu jovens que pintaram paredes de edifícios, com grafiti, com slogans pró-tibetanos. Não é nenhum choque que se prendam vândalos, não fossem eles jovens de 14 e 15 anos (da província de Gannan, na zona tibetana autónoma). 20 foram presos, 13 libertados. 1 deles espancado pelas autoridades policiais e à sua família foi recusada a sua ida ao médico. Crianças presas e espancadas: esse é o retrato de um país que assinou Convenção dos Direitos da Criança!
  • O Sudão nomeou Ahmed Haroun para co-presidente do grupo que vai fazer a auditoria das queixas de Direitos Humanos no Darfur. Seria uma nomeação normal, até porque ele está como ministro de estado para assuntos humanitários, não fosse ele suspeito de crimes de guerra. Suspeitos de guerra como líderes dos direitos humanos: esse é o retrato de um país que tenta acabar com as lutas e contendas internas!
  • O Irã impediu que 800 jovens bahá'ís entrassem no Ensino Superior. Seria normal, se os 800 estudantes não tivessem passado aos exames, mas quando os seus ficheiros aparecem como incompletos, os serviços do governo não respondem às suas dúvidas sobre a situação, oficiais do governo dizem terem obedecido a ordens superiores para não cotarem os seus exames ou que lhes permitirão aceder aos estudos se as suas famílias renunciassem à sua religião, há clara discriminação com base religiosa. Jovens que não podem aceder ao ensino por serem discriminados: esse é o retrato de um país que assinou o Convénio Internacional sobre os Direitos Económicos, Sociais e Culturais que obriga direito de acesso universitário para todo!
  • O Egito manda encerrar a Association for Human Rights Legal Aid por receber apoios financeiros estrangeiros sem a devida permissão do estado. Seria um processo normal, não se tratasse da principal organização de direitos humanos do país, provendo apoio a vítimas diversas e relatando situações ao resto do mundo e o governo não tivesse atrasado a decisão sobre os fundos da associação, desde 2004. Apoio humanitário extinto: esse é o retrato do país que pertence ao Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas!

Esse é o retrato da nossa humanidade... Até quando ficaremos impávidos perante o retrato, gritando espantados?


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quinta-feira, setembro 27, 2007

Police: melhor do que nunca!

Enquanto, há dois dias atrás, estava meio mundo e a maioria dos meus amigos, ouvindo o Presidente do Irão dizer que não há problemas de liberdade no Irão, que o seu povo é o mais instruído no mundo, que o fenómeno da homossexualidade não existe, que nenhum jornalista é preso indevidamente e que os bahá'ís nem sequer existem, estava eu, a saltar e a berrar noutro lado do mundo...

O concerto que a minha mãe não foi, mas que eu fui
Sting, Copeland e Summers juntaram-se numa tour mundial, levando os seus melhores sucessos de uma época na qual não vivi, num mundo que nem cheguei a conhecer. Separaram-se em 1984, quando eu nem sabia quem era e como era a vida. A minha mãe, em compensação, o meu pai e todos aqueles que viveram a sua juventude nos 70's viveram ao som de um grupo cuja estranha voz do vocalista iam ouvindo aos berros. Os seus pais, suponho, gostavam tanto desse grupo, como eles gostarão do hiphop dos filhos mais novos ou o rock dos mais velhos. A evolução do mundo da música é estranha. Para uns uma coisa é ruído, para outros é melodia pura.
Mas, ao que parece, para todos (ou muitos) The Police são um ícone para todas as gerações. Pessoas mais novas que eu (ainda mais novas, quem diria?!) e outras bem, mas bem mais velhas lá estavam, sentados nas bancadas ou nos relvados aos pulos, cantarolando todas as músicas que lá iam passando:
  • Message in a Bottle
  • Synchronicity II
  • Walking On The Moon
  • Voices Inside My Head / When The World Is Running Down
  • Don't Stand So Close To Me
  • Driven To Tears
  • Hole In My Life / Hit the road Jack
  • Truth Hits Everybody
  • Every Little Thing She Does Is Magic
  • Wrapped Around Your Finger
  • De Do Do Do De Da Da Da
  • Invisible Sun
  • Walking In Your Footsteps
  • Can't Stand Losing You
  • Roxanne
  • King Of Pain
  • So Lonely
  • Every Breath You Take
  • Next To You

O início deslumbrante e imparável com Message, a beleza com que entoaram o hino à infância Invisible Sun, os saltos dados em King, o romantismo do Every Breath foram inesquecíveis. Os dez minutos (não sei se foram mais ou menos: o fluxo temporal alterou-se naquele momento) de Can't Stand Losing You, comprovaram: Sting não é o mesmo quando está com os co-police. Não canta: actua em palco! Não mexe: salta, pula, se diverte e diverte ao público com o seu sotaque britânico-brasileiro ao falar português.
O grupo, por sua vez, era o grupo. Copeland mostrou-se como nunca antes o havia imaginado: tocando instrumentos que eu nem sonharia ver num show dos Police. Summers, imbatível, nas suas cordas de guitarra e Sting com uma voz mais quente que a de outrora, cantava, mas também deixava os outros dois mostrarem quão bom são: não como os CD's que tenho, na qual Sting é o rei e os outros lá estão; aqui o grupo era um constituído por três génios da música!

A organização Muita coisa boa e algumas falhas: transporte do estádio até Lisboa, mas não o reverso. Informações incongruentes: quem vendia dizia que com bilhete bancada poderia ir ao relvado, seguranças diziam que não, outros diziam que só determiandas bancadas davam acesso ao relvado. Transporte desde o Porto para Lisboa, para quem queria ir ao Concerto, mas o pessoal do Sul, nada! Acho que há muita coisa que o processo de reflexão pós-concerto poderá dar novas ideias para os próximos eventos a organizar pela produtora.

O filho... Fiction Plane é um grupo cujo vocalista tem postura de palco, sabe cantar e animar o público. Mas, Fiction Plane é o nome do grupo cujo vocalista é conhecido como o "filho de Sting" e não como Joe Sumner. Filho de Sting, Joe nunca poderá saber se a sua fama é pelo pai, ou por sua competência pessoal; jamais saberá se é conhecido e respeitado por ser quem é ou por ser filho de quem é. Filhos de bons reis, dificilmente são lembrados por outros motivos senão os seus pais: são comparados com eles e, sempre, associados a eles e aos seu legado. Para chegar aonde bem poderia chegar, Joe, não precisava de se associar ao pai, ao concerto do pai, ao nome do pai. Corre o risco de ser mais um dos muitos filhos de génios que nunca conseguiram ultrapassar essa barreira.
Outro aspecto a melhorar: as letras. Isso de calçar o sapato e colocar batôn para ir dançar não é música: a sua voz merece cantar algo melhor (como algumas das músicas que eles até tocaram que eram muito boas)!

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sábado, setembro 22, 2007

Académica do Algarve de Luto

Dizem que com a idade vamos perdendo os amigos, que é o fruto da velhice. Mas, hoje em dia, os mais novos perdemos muitos amigos, graças às nossas estradas!

Carlos Santos foi o segundo presidente eleito da Associação Académica da Universidade do Algarve e o primeiro a falecer. Aquando do telefonema que recebi, ontem, informaram-me que se tratava de um acidente na Auto-Estrada da Via do Infante: não sei se excesso de velocidade, más condições de via, irresponsabilidade de outros condutores, não sei...

Sei, sim, quem era o Carlos Santos que eu conheci. A primeira conversa que tivemos foi na estação de autocarros e, de facto (admito), em parte, surpreendeu-me! Era a altura das eleições, ele era vice-presidente da Associação e candidato a Presidente. Escusado será dizer que ganhou as eleições e cumpriu os seus dois mandatos (Janeiro de 2001 a Janeiro de 2003), comigo, simultaneamente, como amigo e causador de dores de cabeça.

Apesar de discordâncias que tivemos em vários momentos, sempre nutrimos um respeito mútuo e até uma boa relação. Eramos duas pessoas insistentes em nossas perspectivas, não haja dúvidas! Ele consultava com todos, mas a decisão tomada seria levada avante. Ouvia os estudantes, ouvia os vice-presidentes e ouvia a voz da sua consciência. Era como aquele rei que não se importava com o que as pessoas pudessem dizer nas suas costas, porque fazia o que considerava correcto. A voz da sua consciência esteve ao seu lado! Era consciente e consistente.

Tive a honra de poder conceber alguns projectos com ele. O Academismos que ele e a Zaida elaboraram e que com a minha ajuda foi consolidado. Os encontros entre os Núcleos por mim concebido e por ele, em todo momento, apoiado. A Rádio Universitária do Algarve que ele conseguiu viabilizar. O seu ressabio (como ele dizia) contra as injustiças perpetradas contra estudantes era o seu maior atributo: não tolerava professores injustos com alunos, não aceitava governos que dificultavam a vida aos estudantes e detestava ver a classe discente dividida em rivalidades internas, mas esse era o retrato do ambiente no qual havia decidido servir à Instituição.

Acabou o curso, começou a trabalhar e, alguns, de longe, como eu, aguardavam a sua ascensão no seu partido, quem sabe, daqui a dez anos, para líder de uma bancada parlamentar aonde, em nossos ecrãs, longe, diríamos: "vimo-lo a brincar aos políticos, e, hoje, já não brinca, é um político sério".

Mas, infelizmente, as estradas portuguesas ceifaram mais uma vida! Mais um amigo perdido nas estradas do Algarve, mais um jovem promissor português que desaparece, sem jamais ter deixado a sua verdadeira marca no panorama nacional. Foi-se o Carlos, fica-se a sua memória, na Universidade do Algarve e nos amigos que deixou.


Actualizações (24/09):
Hoje a missa de corpo presente em Faro será feita na Igreja da Misericórdia, pelas 12h. O funeral será realizado pelas 11 da manhã de terça, na Capela de S. Brás, Quinta do Gato, Santa Joana, em Aveiro e a Universidade do Algarve disponibiliza transporte para lá.

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quinta-feira, setembro 20, 2007

Vais conseguir!

- Não consigo. - Como é que ele ia explicar, de uma maneira que ela percebesse, que, quando tentava alcançar e apoderar-se da vida que vibrava em torno dele, ela lhe escapava dos dedos, deixando nada mais do que um fóssil na folha de papel? - Não consigo agarrar a poesia das árvores - disse.

- Não te preocupes - disse ela. - Um dia vais conseguir.


Katherine Paterson (1977)
Trad. de Rita Simões (2007)
do original inglês.

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terça-feira, setembro 18, 2007

Da migração à mundialização humana


A 25 de Junho deste ano, foi tornado público pela OCDE, em Paris, o relatório Perspectivas das migrações internacionais, que demonstra o aumento do fluxo migratório internacional nos 30 países que a constituem: de 3,5 para 4 milhões.

Países como Portugal, Espanha e Itália que, outrora demonstraram-se países emigratórios, convertem-se, hoje, em países imigratórios, o que leva a uma profunda mudança de paradigma. Tratam-se de países com condições económicas interessantes – ricos para aqueles do Hemisfério Sul e pobres para os países a Norte.

Calcula-se, assim, que hoje em dia 1,7% da população mundial viva fora do seu país de nascimento, como consequência de três conjuntos distintos de motivos, que ao longo da história humana:

  • Motivos políticos – na esperança de uma nova vida na América Latina, por parte de italianos do início do Século XX, ou durante, por exemplo, as ditaduras sul-americanas ou os conflitos na África;
  • Motivos económicos – os cidadãos do antigo bloco soviético ou da África que chegam à procura de melhores condições de vida;
  • Motivos religiosos – a povo judeu que liderado por Moisés (cc. 500 a.C.) saiu do Egipto, e as várias famílias bahá’ís do Irão que saíram pelas perseguições iniciadas pelo regime instaurado em 1979, matando só em 1981, pelo menos 150 de seus adeptos.

O Relatório também estabelece que nos período 1995-2005 houve uma melhoria da integração dos imigrantes e também dos seus filhos no mercado de trabalho, apesar de ainda 1 em cada 4 imigrantes altamente qualificados encontrar-se inactivo ou a trabalhar em trabalhos inferiores às suas habilitações.

É, portanto, crucial que a imigração seja acompanhada de integração, através de mecanismos efectivos, eficazes e eficientes que assegurem que os imigrantes sejam incorporados nos mercados de trabalho, na economia e na sociedade.

Muitas medidas estão a ser tomadas por diversos grupos profissionais e sociais, e mesmo políticos e governamentais, no entanto, enquanto se descurar o aspecto individual e relacional, pouco ou nada pode ser feito.

Pois existe “um sempre crescente número de estrangeiros, que trazem consigo valores, tradições, crenças religiosas, hábitos e problemas deveras diferentes dos nossos” (Andolfi, 2004). Esses imigrantes encontram-se numa espécie de limbo, perdidos entre o sentido que não conseguiram dar às suas vidas nos países de onde emigraram e o sentido que não conseguem encontrar nos países para onde imigrarem. Experimentam formas múltiplas de stress, tentando ajustar a maneira como se vêem e a maneira como vêem ao mundo.

Talvez devessemos encontrar uma estratégia que preconizasse a unidade na diversidade e a possibilidade de crescimento colectivo e de encontro do sentido da vida, onde as diferenças não mais fossem simplesmente toleradas ou aceites: mas incentivadas e apreciadas. A nobreza humana deve ser promovida através do direito à escolha: em conjunto, procura-se, descobre-se e aplica-se a verdade. O sentido da vida torna-se algo mais realista, pois as pessoas envolvem-se numa teia de actividades conjuntas, produzindo algo que consideram útil e todos, nacionais e imigrantes, percebem que não são meramente um conjunto de pessoas, mas indivíduos com diferentes capacidades e visões, baseados nas diferenças étnicas, culturais, geográficas, idiomáticas, sociais e também individuais.

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domingo, setembro 16, 2007

O Ambiente e a lista dos piores...

Para qualquer interessado nos temas do ambiente, aqui vai uma lista liberada recentemente pela Scientific American. Trata-se da lista dos mais poluídos de entre os países em desenvolvimento, detalhada pela Blacksmith.

10. Vapi (Índia)
Aos petroquímicos, pesticidas, farmácos e diversos outros químicos, num total estimado de mil, adicione-se estrume: essa é a característica principal dessa cidade.

9. Tianying (China)
A concentração de chumbo no solo e no ar é 8,5-10 vezes superior aos padrões de saúde do governo chinês, que a considera como uma de suas mais poluídas cidades.

8. Sukinda (Índia)
30 milhões de toneladas de lixo rochoso nas águas do Rio Brahmani das minas de cromito (as maiores do mundo) permitem que a água se torne rica em crómio hexavelante carcinogénico para os 2.6 milhões de habitantes.

7. Norilsk (Rússia)
O maior complexo de fusão metálica do mundo, criando uma das piores polinas do mundo (poluição+neblina). A contaminação é tanta que o vegetal mais próximo encontra-se a 30 km e ainda há metais pesados a 60 km.

6. Linfen (China)
Pessoas que bebem arsénio e engasgam na poeira. Chega a ser difícil ver de tão poluído é o ar dessa cidade, aonde vivem três milhões de seres humanos.

5. La Oraya (Perú)
35 mil pessoas sofrem as consequências da extração de minérios de chumbo, cobre e zinco, por uma companhia estadunidense.

4. Kabwe (Zâmbia)
Crianças e fetos com paralisia cerebral e danos cerebrais diversos, com 50 a 100 microgramas de chumbo por decílitro de sangue.

3. Dzerzinsk (Rússia)
As 300 mil pessoas residentes nesta cidade possuem uma das esperanças médias de vida mais baixas da Humanidade: 45 anos (15-20 menos que os demais russos e metade do que nós, em países "ocidentais" esperamos viver). Tudo devido ao lixo (resultante da manufaturação química da Guerra Fria) injetado nos solos da cidade.

2. Chernobil (Ucrânia)
5 milhões e meios de pessoas ainda sofrem as consequências daquele que é considerado o maior acidente nuclear de todos os tempos. As suas consequências são sentidas através de doenças várias, como o câncer de tiróide, e da economia (países vizinhos, como a Bielorússia têm a sue economia, assentada na agricultara, altamente danificada).

1. Sumqayit (Azerbaijão)
A medalha de "ouro" pirite vai para a cidade que remanesce da vida soviética de produção química. Contaminação por químicos, metais pesados e óleos faz com que as 275 mil pessoas que lá vivem tenham 22-51% mais predisposição (que os seus conterrâneos) de padecerem de câncer e os seus filhos possuem toda uma panóplia de defeitos genéticos que podem variar desde a doenças de ossos a atrasos mentais.

A economia dessas regiões sofrem.
As famílias vivem em condições precárias...
Crianças morrem ou nem chegam a nascer!
E com o que se preocupam os governos?

Se outrora, um grupo brasileiro cantava Que país é esse?, hoje, como eu considero a Terra um só país, grito:
QUE MUNDO É ESSE?

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sexta-feira, setembro 14, 2007

Congresso Internacional: Rumi 800 anos

No domingo passado, começou, no Tajiquistão, como resultado da coperação entre a Academia de Ciências da República do Tajiquistão, a Plataforma do Diálogo da Eurásia e o Instituições Educacionais Selale, o Congresso comemorativo dos 800 anos do nascimento de Rumi, o sufi persa cujo pensamento, se estudado, poderia caracterizar o conhecimento espiritual e filosófico do mundo.

Com cerca de 100 académicos de 27 países como a Turquia, a Rússia, o Irão, o Azerbaijão, o Egipto e a Índia, mas também com a presença do Estados Unidos da América, da Áustria, Alemanha, França e Japão o evento, se devidamente publicitado, poderia ter marcado, globalmente, um debate sobre a eliminação dos preconceitos, da falta de informação e da ignorância através dos princípios de tolerância e amor por todas as religiões e civilizações, preceitos ensinados por Rumi no Século XIII.

Da cerimónia de abertura, com Imamali Rahman, Presidente da República daquele país, até à declaração final dois dias depois, abordou-se a necessidade de toda a humanidade beneficiar das ideias de Rumi, para o estabelecimento de um verdadeiro diálogo inter-cultural e o estabelecimento da paz mundial.

Sendo um membro da Fé Islâmica, o sufismo é perseguido por alguns movimentos (governamentais e não só) de países islâmicos. O seu pensamento, é, contudo, tido como um dos mais proeminentes dos séculos que nos precedem, ao ponto de Bahá'u'lláh, o fundador da religião Bahá'í dedicar uma epístola (Tablet of Salman) a um verso de sua obra, bem como citar o seu pensamento em diversas passagens das Suas próprias obras.

A título de exemplo, segue-se um dos mais belos dísticos de Rumis, citados nas escrituras sagradas bahá'ís (a única religião que o cita em sua literatura sagrada):

Tu, Irmão, és teu pensamento apenas,
O resto é somente músculo e osso.

Se apenas estivessemos atentos que a nossa verdadeira realidade é a nossa realidade interior e não a aparência exterior...

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quarta-feira, setembro 12, 2007

Campeão sem acaso

Recebi ontem de manhã, o Boletim Informativo do Alto Comissariado para a Integração e Diálogo Intercultural do Governo Português.

Na capa, como não poderia deixar de ser, vejo, novamente, o Nelson, herói nacional, Évora. Mas, pela primeira vez, de todos os textos que lhe é dedicado no interior de um jornal ou revista, vejo um que apela à excelência humana e ao desejo de contínuo progresso das populações muitas vezes marginalizadas: os imigrantes.

Do editorial da autoria do Alto Comissário, Rui Marques, transcrevo as seguintes passagens:

«Poderia ter sido mais uma história de derrota perante as adversidades. De um outro filho de imigrante que não conseguiu vencer as inúmeras barreiras ao seu redor, terminando em exclusão social, sem horizonte, nem esperança. Mas, desta vez, nasceu um campeão do mundo.

A história feliz de Nelson Évora deve fazer-nos pensar. Vindo para Portugal, com a família, aos cinco anos, só aos 18 teve acesso à cidadania portuguesa. Hoje com 23 anos, tem o 12º ano completo, sonha também com outros “voos” nos estudos em Marketing, para juntar aos saltos que consegue no triplo salto e no salto em comprimento. A sua convicção religiosa – a fé bahá'í – torna-o também militante de “uma só humanidade”. Este é o retrato do nosso herói, no seu extraordinário trajecto de sucesso que o levou à fama mundial. Neste percurso, o mérito é, seguramente, antes de tudo, seu e da sua família. Apesar de todas as contingências negativas que qualquer família imigrante experimenta, conseguiram chegar aqui. Honra lhes é devida. São um exemplo para todos nós.

(…)

Ainda que não seja possível aos nossos filhos – de imigrantes e de portugueses – chegar sempre a ser campeões do mundo e entrar para o livro da fama, muitas vitórias conseguiremos se, portugueses e imigrantes, nos unirmos na construção de um futuro comum, com lugar para todos.»

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segunda-feira, setembro 10, 2007

Sting - Quando os anjos tombam

Com a aproximação do concerto dos Police, deu para começar a publicar algumas tentativas de traduções de letras do Sting.
Cá vai a primeira:


Tão alto sobre o mundo hoje
Os anjos vêm-nos descansados
E por baixo duma ponte de estrelas
Sonhamos seguros guardados
Mas porventura
O sonho nos sonha a nós
Alto voando com gaivotas
Mas porventura
O sonho nos sonha a nós
Nas costas de águias

Quando os anjos tombam
Sombras na parede se encontram
Os trovões que nos convocam
A todos nos apavoram
Quando os anjos tombam
Quando os anjos tombam

Leva a cruz do teu pai
Da parede, com gentileza
Uma sombra remanesce
Vê o Outono da igreja
Em poderoso arco de som
E tudo o que lá estivesse
E ainda assim toda alma rota
De toda pessoa rota
Procurando por suas casas perdidas
Mescladas com as ruínas
Da nivelada planície
Para procurar entre as lápidas

Quando os anjos tombam
Sombras na parede se encontram
Os trovões que nos convocam
A todos nos apavoram

Quando os anjos tombam
Quando os anjos tombam
Quando os anjos tombam

Estes são os meus pés
Estas são as minhas mãos
Estes são os meus filhos
E esta é a minha exigência
Descendam os anjos
Levem-nos da minha visão
Não quero nunca ver
Milhões de sóis na escuridão

As vossas mãos estão vazias
As ruas estão vazias
Não nos podem controlar
Não nos podem controlar nunca mais

Quando os anjos tombam Quando os anjos tombam
Quando os anjos tombam Quando os anjos tombam
Quando os anjos tombam Quando os anjos tombam

Sting (When the angels fall) .
Trad. por Sam, a partir do original inglês
do álbum The Soul Cages (1990)

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quarta-feira, setembro 05, 2007

Campeonato de Excelência Humana

Agora que o Campeonato Mundial de Atletismo em Osaka terminou, há três dias, e os participantes vão regressando a casa quero relembrar três imagens que me marcaram.

A grande imagem de ouro, para mim foi

Irving Saladino, do Panamá, impressionantemente incrível!


A segunda melhor imagem foi ver o nosso companheiro chegar ao ouro.


E ver Tyson Gay, após cada vitória, tendo mais uma medalha de ouro.





















Indubitavelmente, três campeões de excelência! Quisera eu ver pessoas esforçadas e determinadas noutros campos do desenvolvimento humano... Parabéns aos três e a todos aqueles que, com ou sem medalhas de ouro, animam os seus espíritos rejeitando as baixas visões de mediocridade e escalando às alturas ascendentes da excelência em tudo que aspirarem fazer.

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segunda-feira, setembro 03, 2007

Ouvi por aí... no Hotel Ruanda

Vi, há dias, um filme que dificilmente me vejo capaz de comentar; pelo que apenas transcrevo algumas passagens que me chamaram bastante a atenção.

Faço-o ao bom estilo do Cejunior, quando cita determinados escritores e faladores.

"Nós somos a maioria, eles são a minoria de traidores e invasores. Nós iremos esmagar a praga."
RTLM Hutu Power Radio (com o comentário de as maiorias serem melhores que as minorias)

"A política é poder, Paul, e dinheiro."
George Rutagunda, líder da Guerrilha Interhamwe

"Os belgas é que criaram a divisão. Eles escolhiam as pessoas: aqueles com narizes mais finos, pele mais clara; costumavam medir a largura das narinas das pessoas. Os belgas usavam os Tutsis para gerir o país, mas quando se foram deixaram o poder para os Hutus. E, é claro, os Hutus vingaram-se contra os Tutsis pelos anos de repressão."
Benedict, o jornalista especialista de Kigali (definindo historicamente o rídiculo da dicotomização da espécie humana)

"É tempo de limpar a savana, Hutus de Ruanda. Devemos cortar as árvores altas. Cortar as árvoras altas agora. (...) Encontrar esses traidores (...). Não deixar nem um deles escapar."
George, líder da Guerrilha Interhamwe na RTLM Hutu Power Radio (dando ordem de ataque à milícia: a aniquilação total dos Tutsis)

"Estamos aqui para manter a paz e não para fazer a paz. As nossas ordens são para não intervir."
Coronel Oliver, responsável das forças de manutenção da paz das Nações Unidas durante o conflito (demonstrando o absurdo do sistema de Nações Unidas que possuímos)

"É um massacre, cádaveres, machetes."
Líder da equipa de repórteres

"Como podem não intervir, quando testemunharem tais atrocidades?"
Paul Rusesabagina, ao falar com o repórter que filmou as primeiras cenas noticiadas de chacinas

"Penso que quando as pessoas virem essas filmagens dirão: "O meu Deus, é horrível". E então continuarão comendo os seus jantares."
Daglish, o repórter, respondendo

"Por favor, não deixem que me matem: prometo que deixarei de ser Tutsi."
Uma das dez crianças do orfanato, com a irmã amarrada nas costas, antes de ser morta a machada

"Almejam crianças tutsis, Paul, para eliminar a próxima geração."
Sr.ª Archer, membro da Cruz Vermelha

"Eles não ficarão. Eles não vão parar a chacina."
Coronel Oliver, falando dos recém-chegados soldados europeus

"O Coronel Oliver disse que tem 300 soldados para manutenção da paz em todo o país."
Paul, falando com a esposa

"Fonte nas Nações Unidas reportam que os representantes americano e britânico no Conselho de Segurança pedirão a remoção total dos soldados da N.U. do Ruanda."
Notícias News Service Africa (comprovando o papel activo do "Ocidente")

"Não toque na câmera. Temos o direito a filmar."
Repórter a filmar a congregação religiosa que os soldados europeus aceitam proteger sem os membros ruandeses do grupo (sacerdotes e civis, adultos e crianças que são deixados para trás)

" - A quem posso telefonar para acabar com isso?
- Os franceses. Eles armamentam os Hutu."
Presidente da cadeia de hotéis Sabena, Sr. Tillens (na Bélgica), em conversa telefõnica com Paul, tentando impedir que o exército Hutu leve as mais de 900 pessoas instaladas no Hotel Mille Collines (veio-se a saber, posteriormente, que eram um total de 1.268), provavelmente, para serem mortas

"Implorei aos franceses e belgas que regressassem e vos trouxessem a todos... Temo que isso não aconteça. São covardes, Paul. Ruanda não vale um único voto para nenhum deles: os franceses, os britânicos, os americanos..."
Tillens (comprovando o desinteresse político pelos seres humanos)

"Temos todas as razões para crer que actos de genocídio têm ocorrido."
Porta-Voz da Casa Branca, respondendo a um repórter sobre o genocídio em Ruanda

"Quantos "actos de genocídio" são necessários para fazer um genocídio?"
Pergunta seguinte

"Não é uma pergunta na qual esteja em posição de responder."
Nova resposta (não creio que eu precise comentar!)

"Deixaram para trás quase um milhão de cadáveres."
Última frase escrita no filme.

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