sexta-feira, junho 29, 2007

da Acção e da Justiça



Sem pensar naquilo que não poderíeis saber, e que vos não pode fornecer nenhuma luz, agi segundo o vosso dever que conheceis.





E não é claramente vosso dever reprimir a tirania do opressor e tratar com equidade vossos súditos, a fim de demonstrar plenamente a toda a humanidade vosso alto sentido de justiça?

Etiquetas: , ,

Crise Existencial da Europa (2)

Ao inquirir o Secretário de Estado Gomes Cravinho sobre o tema citado no post anterior, afirma que a figura do Alto (ou auto?) Comissário Europeu para os Assuntos Externos terá como função “implícita” de defender os Direitos Humanos Universais dentro e fora da Europa. Gostaria de ver o Javier Solana ter a sua próxima reunião em Lisboa com a delegação iraniana e perguntar: “Então, por que é que as mulheres são presas? Não percebi bem aquela pena de prisão àquele blogger! Ser bahá'í é inconstitucional?!” E não “vá lá, deixem lá a Energia Atómica”.

Gostaria de ter visto estes valores europeus serem aclamados e bradados antes da tragédia do Darfur ter adquirido tais dimensões como agora, e não depois! Acho que os valores europeus são, tal como têm sido nos últimos séculos, querer liderar o mundo sem saber bem como.

Espero que a Europa dos Direitos Humanos se erga, e que a política de direitos humanos seja mais do que uma política
e que, como disse Gianni Bonvicini, no mesmo dia, além de melhorar a economia para sermos imprescindíveis ao mundo, ofereçamos segurança, mas, acima de tudo, democracia ao resto do mundo.

Espero que ultrapassemos essa depressão e que, citando o nosso Ministro, percebamos não só a questão do “poder na Europa” como também “o poder da Europa no Mundo”, num mundo cuja marca será o humanismo e não o economismo feudal.

Etiquetas: , , , , , , , ,

quinta-feira, junho 28, 2007

Crise Existencial da Europa (1)

Conforme disse em post anterior, Luís Amado teve intervenção ponderada, serena, reflectida e, aparentemente, improvisada, na sessão de encerramento do Congresso que terminou há um par de dias. Afirmou que a Europa pode estar numa “crise existencial”, na medida quem essas crises são fruto das relações que se estabelecem com os outros que, neste caso, são os nossos vizinhos.

No mesmo dia, João Gomes Cravinho, Secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Cooperação, teve a sua intervenção sóbria e agradável de ouvir. Explicou que o Médio Oriente, a Rússia (dois dos vizinhos), a questão energética, as alterações climáticas e a equidade são os cinco objectivos (nesta mesma ordem) externos da U.E., no âmbito dos “valores europeus”.

Não sei bem o que são esses valores. Se são a democraticidade da sociedade, pergunto-me como é que a União Europeia compactua com perseguições religiosas no Irão ou perseguições étnicas na Síria (no Médio Oriente). Não entendo como é que a Rússia não é censurada pelos clarividentes problemas de liberdade de expressão (ou melhor, da ausência dela).

Etiquetas: , , , , , , ,

quarta-feira, junho 27, 2007

II Congresso "Futuro da Europa"

Acabo de regressar do Debate decorrido no II Congresso Nacional sobre o Futuro da Europa. Deu-se corpo a um debate aberto e sereno acerca das diversas realidades da Europa. Com intervenções variadas e com visões claramente diferentes do mundo, percebeu-se, através das intervenções que constam em acta e dos conferencistas convidados, que o mundo europeu se baseia num único conceito: o de Unidade na Diversidade.

Este conceito foi citado desde a primeira sessão até à última, com intervenção destacada do Ministro dos Negócios Estrangeiros, Luís Amado, que afirmou: “é essa marca de unidade na diversidade que caracteriza o projecto europeu”.

Chamou-me a atenção na medida em que ninguém defendia a homogeneização da Europa nem a possibilidade da manutenção da diferença: falava-se em unidade na diversidade, um conceito que, tanto quanto sei, foi mencionado pela primeira vez por Mirzá Husayn 'Ali Nuri no Século XIX.

“Que evitemos a terra da negação e nos aproximemos do oceano da aceitação, de modo a percebermos – com os olhos purificados de todos os elementos discordantes – os mundos da unidade e da diversidade, da variação e da uniformidade, da limitação e do desprendimento, e alçarmos voo para o mais alto e íntimo santuário do sentido interior” dizia, o cognominado Bahá'u'lláh numa carta, em 1862.

O conceito de unidade na diversidade, promulgado aqui é o mesmo que está a ser experimentando pelos povos do mundo, que dão o passo à maioridade humana, uma maturidade da raça humana que terá como plena expressão o princípio da unidade na diversidade.

A Europa converte-se, assim, no pivot dessa mudança. As Nações Unidas, uma pseudo-descendente da falecida Liga das Nações, e tantas outras instituições internacionais são agentes dessa mudança, destes passos na direcção da consolidação do processo social humano. Das tribos aos clãs, das cidades-estado aos países e, agora, caminhando para um mundo estruturado, uma entidade orgânica única, uma super-potência humana, liderada por seres humanos e não por estruturas, e sobretudo gerido para o bem-estar da humanidade, para a sua paz e segurança.

A União Europeia é o tubo de ensaio, é só um exemplo, um archaeopteryx entre as Nações Independentes e a Terra como um só país. Vejamos!

Etiquetas: , , , ,

domingo, junho 24, 2007

Eu na Europa

Estarei nos próximos dois dias na Fundação Gulbenkian (Lisboa), num evento organizado pelo Instituto de Estudos Estratégicos e Internacionais: o II Congresso Nacional sobre o Futuro da Europa.

Será a primeira vez que participarei como membro de uma mesa de congresso, com uma apresentação por mim preparada.

A minha apresentação, intitulada Babel Revisitada e integrada na secção Diversidade e identidade / Hospitalidade e xenofobia, tenta analisar os diferentes comportamentos que os nacionais têm para com os imigrantes.

Aparentemente o único psicólogo daquela mesa e o último as intervir, acredito que são tantos os passos a dar, da segregação à verdadeira integração, que nós, imigrantes e nacionais, não poderemos sentar impávidos, pensando que o futuro da Europa está numa ou noutra religião, numa visão cultural específica ou em posições políticas dicotomizadas.

O futuro da Europa está em assumir-se como jardim multifacetado em que as várias flores, com diferentes cores, fragrâncias e formatos apenas embelezam o nosso jardim multicultural.

Etiquetas: , , , ,

sábado, junho 23, 2007

Behold! Eis o Homem!

Acabo de terminar a minha leitura das 95 páginas da obra Eis o Homem (Behold the Man) de Michael Moorcock (1966). Algumas horas foram o suficiente para ficar perplexo e me rir com aquilo que o próprio autor caracteriza como tentativa de “lidar com o trabalho de analisar e interpretar vários aspectos da existência humana”.

Sem querer ferir susceptibilidades, a obra retrata a história de “o louco, o profeta, Karl Glogauer, o viajante no tempo, o neurótico psiquiatra frustrado, o homem em busca de significado, o masoquista, o suicida, o homem do complexo messiânico” que ao regressar aos primórdios do Cristianismo percebe que Jesus nunca existiu, tendo que assumir para si mesmo a função messiânica que lhe foi quase impingida por João, o revolucionário.

Curando todos aqueles que tinham doenças psicossomáticas (milagre da cura), andando sobre águas rasas (milagre do andar sobre as águas) e ensinando os discípulos a imaginar a comida de modo a evitar a fome (milagre da multiplicação dos pães), este homem (nem sequer cristão, mas um judeu curioso da história messiânica) viu-se obrigado pelo labirinto do tempo a assumir para si a função de Filho do Homem.

Crítico “da era de que as pessoas se agarram aos destroços das suas ortodoxias afundadas como se fossem a salvação, e continuam, de maneira agressiva, as mesmas ideias que as levaram à sua desagradável situação”, “diria que imitar Cristo é o mais importante acto de fé que um cristão pode executar. Ao rejeitar a ignorância e o preconceito a favor da educação e da tolerância, temos hipótese de alcançar o paraíso ou, no mínimo, a nossa própria harmonia moral e espiritual, que decerto será a nossa maior arma contra os efeitos da cupidez humana, contra os poderes do Caos e da Noite Velha…”.

Cansado de decisões erradas de religiões instituídas, o personagem principal rejeita a instituição dogmática sem por em causa a Fé. Cansado do seguidismo cego, o autor parece querer instaurar o pensamento livre e independente nos seus leitores. O que se deseja é transcender o instituído e pensar no que pode ser ciência e o que pode ser fé.

O que faz uma religião ser uma religião? Quem decide o património da sua religião? Quem faz a religião? Qual é a religião do futuro?

Muitos têm tentado responder. Quem sabe a resposta?

Etiquetas: , , ,

sexta-feira, junho 22, 2007

Da crítica e da coragem de ser livre


Se queres evitar a crítica, não digas nada, não faças nada, não sejas nada.

Hubbard



La valentía me proporcionará adversarios, pero la honradez puede apaciguarlos.

Elisabeth Lukas



Etiquetas: , ,

quarta-feira, junho 20, 2007

Dia Mundial dos Refugiados - A diferença é que eles não podem ir para casa

Ban Ki-moon, Secretário Geral da Organização das Nações Unidas, explicou a diferença entre os imigrantes e os refugiados numa frase: "A diferença é que eles não podem ir para casa".

O UNHCR's 2006 Global Trends report, tornado público ontem, esclarece que apesar de todos os esforços (Guterres, por exemplo, afirmava hoje que "algumas operações massivas de repatriação têm sido positivas") o número de refugiados, em todo o Globo, aumentou para 10 milhões só nos últimos cinco anos.

"Muitos conflitos, hoje, não estão sendo resolvidos e estão a se tornar piores e piores, resultando em muitas situações de deslocamento", afirma António Guterres. Sudão, Darfur e Chad, Burundi, Congo e Ruanda, Balcãs, e, naturalmente, o Iraque... e a lista não termina aqui.

A incapacidade de adaptar-se social e psicologicamente, a dificuldade laboral (a título de exemplo, os refugiados iraquianos na Turquia não podem trabalhar), a precariedade na saúde e alimentação (de alguns campos de refugiados), são algumas das coisas que fazem com que Ban Ki-moon tenha razão quando diz que eles necessitam "o nosso apoio e compreensão" "para assegurar que são cuidados e protegidos".

E se quiser ajudar, caro visitante, a minha sugestão não é nem plantar uma árvore, nem escrever um livro. Antes, vá a este site e colabore com o anelo de ajudar o progresso das 9 milhões de crianças refugiadas no mundo.

E, mais, para quem acha que música não é intervenção social: ouça neste site o que este grupo está fazendo em todo o mundo.

Etiquetas: , , , , , , , , , , , , , ,

segunda-feira, junho 18, 2007

Uma ponte para a Vida

Vi Terabithia, lá estive, lá sorri e lá chorei. Estive em Terabithia, onde os sonhos se convertiam em realidade. Sonhei com Terabithia, onde a magia não tem idade. Tive essa sorte, pois o filme já está disponível nalguns mercados no formato de DVD e noutros ainda segue nos cartazes de cinema.
Aproveitei o feriado de quarta-feira e fui ao cinema. A única sessão do dia, logo cedo! Não ia perder a última oportunidade de ver um filme que coadunava a magia da infância com a seriedade da adultez.

Lá fui. Cheguei ao Shopping, comprei o ticket e vi a matinée.


O filme não era nada do que eu esperava. Não vi dragões mágicos, não vi varinhas de condão, nem fadas cintilantes. Vi uma menina e um menino: Jesse, o único filho (rapaz entre três irmãs: dois desastres, mais velhas, e um anjo, mais nova) de uma família com escassas condições financeiras, maltratado por dois colegas patéticos e que não vê o amor que o pai (brilhante actuação!) lhe expressava (porque não sabia bem como expressar!); e Leslie, a menina dos olhos de ouro dos pais (escritores-natos) e dos professores.

Leslie chega e, aos poucos, demonstra ao espectador que o amor surge da amizade. Jess retribui com dificuldade. Mas não pensem que o filme é uma história de amor ao bom estilo romântico. É muito mais!

Leslie é imaginativa nas palavras, Jess é exímio nas imagens. Juntos, os dois criam um mundo de fantasias nos quais eles dominam, um mundo chamado Terabithia, no qual não há limites.

Mas a fantasia, algum dia acaba. O espectador choca-se. As crianças choram e algumas saem da sala. Algo muda naquele mundo perfeito e romantizado. Alguém percebe que as oportunidades não podem ser deixadas para trás. Alguém percebe que o sonho limita a vida. A comédia se converte em drama para se converter, depois, em vida real. O espectador-mirim aprende o que é a culpa, aprende o que é a vida, aprende o que é crescer. O espectador-adulto sabe o que é a culpa e por isso percebe o que é a responsabilidade, sabe o que é a vida por isso alegra-se de nela estar, e sabe o que é crescer por isso adora a nostalgia da infância.

É em Terabithia que se ergue uma ponte onde a adultez e a infância se encontram. É lá que o onírico e o desperto se fundem. É lá que percebemos que é possível andar o caminho espiritual com pés práticos.

Ergamos uma ponte à Terabithia!


Etiquetas: , , , ,

sexta-feira, junho 15, 2007

Dizem que sou um homem com coragem...


Cejunior, blogger brasileiro, nomeou este blog com o prémio Blog com Tomates. Em Portugal, dizer que uma pessoa tem tomates é o mesmo que dizer que essa pessoa tem coragem.

Mas o que é a coragem?
'Abdu'l-Bahá, naquela que é dentre todas Suas obras a minha favorita (O Segredo da Civilização Divina), lista os "atributos da perfeição", dentre os quais poderemos encontrar o exerício da "brandura e paciência e serenidade", a sinceridade, acessibilidade, clemência e compassividade, a "determinação e coragem, integridade e energia", o empenho e esforço, a generosidade, lealdade, a inexistência de malícia, o "zelo e senso de honra", o "ser nobre e magnânimo" e possuir "consideração pelos direitos dos outros".

Há um par de dias tinha essa conversa com alguns amigos meus. O medo não é ficar sentado sem fazer nada. Antes, o medo é aquela força que a nossa amígdala controla para que saibamos os nossos limites, saber até onde ir e não além. O medo é a capacidade de ver que se fizermos a menos ou a mais do que devemos, as coisas não irão funcionar. Mas se habitarmos no medo: não avançaremos!

Aqueles que detém o título de Blog com tomates, são aqueles que sabem que a sabedoria está no medo e na coragem associados com o propósito de converter pensamentos em acções.
Neste sentido, não só gostaria de dizer que concordo com Alma Cigana e Blogiana por terem nomeado o Blog do Cejunior como um blog com tomates, como gostaria de agraciar dois amigos com o título, pelo seu esforço em efectivarem o passo supremamente importante em direção à paz e por estarem concentrados sobre a vontade de agir.
Por serem detentores dos atributos noéticos de coragem, determinação, pureza de motivos e amor desinteressado, nomeio:

Povo de Bahá, pelo esforço no sentido de demonstrar que os Direitos Humanos não são propriedade exclusiva de políticos, mas de todos os sectores sociais (pobres e ricos, académicos e leigos, religiosos e ateus);
A Paz Universal, por um perpétuo trabalho de investigação académica.

Ainda, uma menção honrosa a Estranho Estrangeiro, já detentor do título, pela sua constante intervenção poético-político-social.

Etiquetas: , , , ,

quinta-feira, junho 14, 2007

The Astronaut Farmer

Se não temos os nossos sonhos,
Não temos nada.
Charles Farmer


Filme de 2006 estreado recentemente nas salas portuguesas, The Astronaut Farmer é a história do engenheiro que, não podendo completar a sua formação na NASA, continua a lutar pelo seu sonho: criar um foguete e lançá-lo ao espaço.

A NASA, o Exército, o Congresso, a FAA, com o apoio do FBI, erguem-se contra o seu sonho, o banco o ameaça de bancarrota e o legado do seu pai continua a pairar sobre ele como uma sombra.

Mais do que um filme, é uma trama sobre o sonho, trata-se de uma família humanas que, a cada cena, tenta responder, em unidade, à grande pergunta: Como é que uma família funciona? Os jogos familiares ao jantar, o legado que se transmite de pai para filho (de desistir ou de persistir ante as dificuldades), o sorriso ternurento de crianças (que fantasiam com o pai) e o filho que ajuda (numa fé quase cega e claramente idólatra).

É a história de uma família, entre tantas outras; é a história de uma esposa que entende que a família deve encontrar sentido numa actividade conjunta, numa obra criada por todos. É a história do filho que não pode ser como o avô, porque o pai recusa em ser como o seu predecessor. É a história do marido que não sabe a quem ama mais: o seu sonho ou a sua família (apesar de saber responder a essa pergunta).

Mais do que o elenco – na medida em que o filme não depende das actuações de Billy Bob Thorton e de Virginia Madsen nem da presença discreta de J. K. Simmons ou de Bruce Willis (tão discreta que nem vi o seu nome no genérico!!!) – que não nos faz chorar, nem apela ao mais humano em cada um de nós, nem tampouco nos dá uma história convincente – afinal de contas, quem consegue sozinho (ou com a ajuda de três crianças) montar um foguete espacial em nada menos que um mês de Maio? – temos os gémeos Polish com um enredo profundo. Michael Polish, em particular, está de parabéns pela realização aguçada.

Farmer vivia numa cidade de nome Story e a estória da sua vida era a de um homem que, como tantos outros, delineava a ténue barreira entre o sonho e a insanidade, entre a genialidade e a estupidez humana. O que o filme demonstra é que é o guião que comanda o filme e é o sonho que comanda a vida.

Resta saber:
Será que ele alcança o sonho da sua vida?
Será que ele desiste?
Será que ele toma a decisão certa?
Será que a sua família lhe apoia?
Será que ele apoia a sua família?
Será que ele sobrevive às suas escolhas?
Ou as escolhas sobreviverão a ele?

De um enredo excepcional, o Astronauta não é um mero camponês (farmer): o astronauta é do campo (farm), mas o seu limite é aquele que ele, enquanto ser humano decide. O sentido não está na morte (como diria Freud), mas na obra criada, no amor recebido e no sofrimento. O sentido da vida está naquilo que a família, em conjunto, decide para todos: é o filme que relata uma família em busca de sentido.

Etiquetas: , , , , , ,

terça-feira, junho 12, 2007

Tomada de decisão - Consultar para agir

Não podemos pensar que a liderança é o somatório de atividades levadas avante num vácuo, desordenadamente. Na vasta maioria das vezes, para sermos sucedidos enquanto líderes, devemos nos dirigir a uma tarefa específica, estando cientes de que todos os participantes no processo de decisão sabem claramente quais são os costumes sociais e culturais do seu grupo de trabalho. Os métodos e os materiais usados não devem ser escolhidos aos nossos “gostos” e “desgostos”, mas devem ser o resultado de pesquisas e experimentação durante um bom tempo - estudo, consulta, experimentação, e análise dos métodos e dos resultados das primeiras ações.

Cada pessoa, nas funções que desempenha enquanto líder de um determinado grupo, deve seguir o modelo “consulta, ação e reflexão” no processo de sua tomada de decisão. Cada líder deve-se engajar regularmente nas atividades, refletirem acerca dos resultados dos seus esforços e consultar com os colegas e colaboradores sobre a eficácia do método utilizado no momento da ação.

É a sua função criar uma cultura de encorajamento e de aprendizagem, desencorajando conflitos e rigidez de opiniões. É também sumamente importante que ele se lembre (e relembre aos demais) que existem muitos caminhos para a mesma verdade: “Do mesmo modo, quando encontrardes aqueles cujas opiniões difiram das vossas, não lhes vireis a face. Todos estão procurando a verdade, e há muitos caminhos que conduzem a isso”, diria o sábio persa - Abdu'l-Bahá.

1. Consulta

Neste período é apresentada a situação a debater. A forma como a situação é apresentada tem efeito sobre todo o processo: uma linguagem confusa e complexa pode gerar mal-estar entre os participantes, enquanto que a insinuação pode acarretar reações defensivas e de contra-ataque.

É necessária a brevidade e a pragmática. O líder deve permitir que os participantes no processo adquiram informação suficiente, de modo a poderem dar opiniões fundamentadas. Para isso, o tempo de partilha de informação deve ser otimizado, permitindo a participação de todos. Se quiser saber, enquanto líder as reais opiniões dos demais não apresente comentários opinativos, mas, antes, os fatos com o menor grau de interpretação possível.

Não deixe que as pessoas confundam fatos com opiniões, os sintomas com a causa do problema, muito menos que procurem um bode expiatório. Pelo contrário, deve-se focar na procura de uma solução que consiga ir de encontro aos interesses do grupo enquanto tal, tornando-o capaz de ponderar a informação que já possui, decidindo por uma série de opções.

Deve-se facilitar a participação de todos na gênese de possibilidades e soluções, que devem ser analisadas em pormenor, decidindo-se pela mais adequada. Pois, como disse 'Abdu'l-Bahá - “Conhecimento é o primeiro passo; resolução, o segundo passo; ação, o seu cumprimento, é o terceiro passo”.

2. Ação

O mesmo autor, noutro momento, afirma que “Todo conhecimento é bom, mas não pode produzir qualquer fruto senão através de ação”: portanto, não basta apenas tomar as decisões; é também necessário agir! O líder deve estar atento a inúmeros aspectos, para que a ação seja sumamente maximizada.

Permita que o grupo delineie as estratégias de implementação da atividade, tendo em conta os recursos humanos disponíveis, bem como o tempo e os materiais necessários. Um bom líder dará bastante atenção ao grau de delegação que utiliza com a equipe ou indivíduo(s) e a forma como as utilizará para desenvolver as suas capacidades.

Mas, ao mesmo tempo em que delega atividades (e confiança) nos membros da equipe, deve monitorar a evolução de cada um deles - de cada indivíduo e de cada tarefa -, apoiando toda a equipe ao longo do processo. Pode-se também ir dando novos desafios com o ímpeto de torná-los cada vez mais responsáveis com a tarefa (e, portanto, mais independentes e mais capazes).

3. Reflexão

Por fim, depois da ação feita e acabada, é necessário refletir sobre a forma como foi feita e sobre os resultados obtidos (ou não!). Aqui, o feedback tem um papel crucial, tornando-se fundamental a sua estimulação - tanto a nível grupal como individual. Fazer perguntas simples e diretas (“Qual a melhor estratégia para enfrentar este problema?”) pode ser melhor estratégia do que perguntas complexas ou generalistas (“Alguém tem outra sugestão?”), porque a pessoa sabe o que se espera dela e o líder demonstra sinceridade no desejo de ver aquela pergunta respondida.

Mas, atenção: é comum haver visões diferentes das do líder, pelo que todo o processo de consulta, ação e reflexão se trata de um método enriquecedor cujo objetivo não é mais que o de permitir uma melhor execução da tarefa, evitando futuros erros e repetindo o que se fez bem (e não o contrário!). Isto proporciona a todos mais e melhor informação que pode ajudar na melhoria da performance do seu grupo.

Texto publicado in Boletim RH

Etiquetas: , ,

segunda-feira, junho 11, 2007

Inédito - "Fênix ad eternum" comemora 1 ano!!!

Há um ano atrás, postei um poema persa por mim traduzido, foi o primeiro post neste blog.

Hoje, na esperança de conseguir manter este blog vivo, volto a oferecer, no seu aniversário, um poema que apela à busca da verdade.

De outro persa, Rumi, aqui vai o poema traduzido:


Cruz e cristão, de ponto a ponto sondei;
Ele não estava na cruz.
Fui ao templo de ídolos, à antiga pagoda(1);
Nenhum rastro visível lá.
Fui às montanhas de Herat e Candahar(2);
Olhei: nem na colina, nem no vale.
Com propósito justo, viajei ao cimo do monte Qaf(3);
No lugar, apenas a habitação de ‘Anqa(4).
Dobrei as rédeas e fui à Ka’ba(5);
Não estava na instância do velho ou do jovem.
Perguntei a Ibn Sina(6) por sua posição;
Não estava ao alcance de Ibn Sina.
Viajei pelo cenário das “duas distâncias do arco”;
Não estava na exaltada corte.
E contemplei meu próprio coração;
Aí o vi; noutro lado não estava.
Exceto a pur’alma Shamsi Tabriz(7)
Ninguém mais esteve embriagado e intoxicado e perturbado.


Mowlana Rúmí ou Jalálu’d-Dín-i-Rumí (1207-1273 d.C.) .
Trad. de Sam do inglês de
R. A. Nicholson, Selected Poems.



------------------------------------------------------------------------------------
(1) Pagoda é um templo encontrado no Extremo Oriente, geralmente uma torre de vários andares, ornamentada e com formato de pirâmide.
(2) Cidades situadas, respectivamente, no oeste e no centro-sul do actual Afeganistão.
(3) Cordilheira que, segundo a tradição da época, circunda ao mundo.
(4) Anqa é a palavra árabe que designa uma ave lendária, que pode ser descrita como um fênix, um grifo, uma águia, ou mesmo esfinge. Simboliza o mais puro de todos os espíritos.
(5) Ka’ba ou Caaba ou Kaaba significa, literalmente, o cubo. Trata-se do santuário de Meca contendo a famosa Pedra Negra, simboliza também o lugar de adoração da Deidade, o que varia conforme a Dispensação Divina.
(6) Ibn Sina – ou, latinizando o seu nome, Avicena – viveu entre os anos 980 e 1037 d.C. e “foi membro da nobreza, era médico, filósofo e diplomata” (cit. in N. Peseshkian, O Mercador e o Papagaio, p. 188). Trata-se de uma das “mais brilhantes mentes na história da civilização” (A Casa Universal de Justiça, 26 de Novembro de 2003).
(7) Shamsi Tabriz – ou, como se encontra nos Textos Bahá'ís, Shams-i-Tabríz – foi “o Sufí que exerceu poderosa influência sobre Jalálu’d-Dín Rúmí, desviando a sua atenção da ciência para o misticismo. Grande parte dos trabalhos de Rúmí são a ele dedicados” (N.T. de Os Sete Vales, pp. 38-9, N. 75).

Etiquetas: , , , ,

sábado, junho 09, 2007

De nós (2)

Afirmo, em resposta ao meu bom amigo Vítor Sousa, que cita o abrasileirado Fernando Pessoa de nome Ricardo Reis


Afirmo, peremptoriamente:



Somos muito mais que contos:
Somos novelas, romances, livros plenos de comédia e tragédia.

Somos seres humanos, bravos e ledos, perplexos perante a insanidade de uns e apaziguados pelo bom senso de outros.

Somos personagens, figurantes fulgurantes, espelhos das nossas vidas, das nossas decisões.


Somos quem somos,
somos quem fomos,
somos quem seremos.


Não, não somos somente contos!

Etiquetas: ,

quarta-feira, junho 06, 2007

Planeta Limpo - Dia da Ecologia

Nos últimos anos, muitas têm sido as iniciativas em defesa do meio ambiente:

A primeira que me lembro é a ECO 92, da qual saiu a Agenda 21 que preconizava uma série de medidas no que deveriam ser adoptadas para manter a sustentabilidade do sistema. O Documento firmado por 179 países ainda deixa muito a desejar, no que concerne à sua aplicabilidade.

Talvez por isso, Al Gore luta tão peremptoriamente essa luta. Gostemos ou não dele, e concordemos ou não com o voto fadado do eleitorado estadunidense em 1999, este político possui uma visão única sobre o tema. Única não por ser original, única não por ter alguma ideia que mais ninguém teve. Não! Única porque poucos são os que se lembram desse tema nos dias que correm. Único, na medida em que não consigo lembrar de outras figuras da classe política que se tenham dedicado tanto a esse tema que, ipso facto, se faz peremptório nos dias que correm.

'Abdu'l-Bahá (1844-1921) afirma, na sua habitual linguagem metaforicamente insuflada de pragmatismo que "o templo do mundo foi modelado à imagem e semelhança do corpo humano. De fato, cada um espelha a imagem do outro, fosses tu apenas observar com os olhos do discernimento. Isso significa que da mesma forma que neste mundo o corpo humano, que exteriormente é composto de diferentes membros e órgãos, é, na realidade, uma entidade estreitamente integrada e coerente, de modo semelhante, a estrutura do mundo físico é como um único ser, cujos membros e partes são inseparavelmente ligados".

É neste sentido que James Lovelock chamava à Terra de "sistema fisiológico único, pois, como qualquer outro organismo vivo, a sua química e temperatura são auto-reguladas de forma que mantenha um estado favorável". Mas foi Gore, o político-estrela, que fez a incoveniência e publicou um livro e realizou um filme; foi inconveniente ao ponto de afirmar, perante as lideranças mundiais que se trata de "uma causa unificadora e partilhada", que não pode ser negligenciada.

O que pode ser feito? Kyoto não avança! Países desenvolvidos e por desenvolver compartem o ranking de mais poluídas. Universidades mundo afora avançam com projectos de combustível eléctrico não poluente e as empresas com o etanol nos carros. E crises de alguns países e a forma como as suas lideranças se portam faz que o crude suba de preço. Com o degelo dos pólos, aSuíça pode vir a perder estâncias de esqui mas a ganhar praias; quem sofre é a África que pode passar a uma maior desertificação, quem sofre é a América que perderá a sua variedade ambiental, quem sofre será a Oceânia que irá emergir baixo à água, quem sofre será a Humanidade, pois a dor numa de suas partes altera todas as outras.

E o máximo que eu posso fazer hoje é aderir à blogagem colectiva começada no Brasil, com o Lino Resende, e esperar que nós, enquanto seres humanos, consigamos adquirir, algum dia, a maturidade de entender que a Terra é um só país e nós somos todos os seus cidadãos, lutando por um mundo melhor!

Etiquetas: , , , , , ,

segunda-feira, junho 04, 2007

O Líder Constante

Estava esta semana reflectindo acerca do que está a passar ao meu redor e em relação a uma entrevista que li na Fortune (edição europeia, N.º 9), lembrei-me das palavras de 'Abdu'l-Bahá:

Tende o maior cuidado para que este dia calamitoso não vos diminua as chamas do ardor nem extinga vossas frágeis esperanças. Hoje é o dia para fidelidade e constância. Bem-aventurados aqueles que se mantêm firmes e inabaláveis como a rocha, e enfrentam com bravura o tumulto e a tensão desta hora tempestuosa.

Vivemos numa sociedade na qual as palavras são pronunciadas sem ser pensadas, e os pensamentos reflectidos escasseiam. Como poderemos dizer que “hoje é o dia da constância”? Pois bem, Robert Polet (presidente e CEO do Grupo Gucci) dá um exemplo:

Se um amigo se torna inconsistente, da primeira vez dizes: “Hmm, estranho”. A segunda vez que isso acontece dizes: “Não estou certo se ainda me sinto à vontade com essa pessoa, porque é imprevisível”. Da terceira vez dizes: “eu vou procurar um novo amigo”.

E explica que se o produto, à semelhança desse amigo, age de forma inconsistente e inconstante, o cliente distrai-se e busca novos produtos. 'Abdu'l-Bahá explica também alguns atributos fundamentais para o sucesso num verdadeiro empreendimento, como sendo: a fé, a confiança, a firmeza e a constância. Diz aliás que “quando encontramos verdade, constância, fidelidade e amor, ficamos felizes; mas se deparamos com mentira, infidelidade e impostura, ficamos infelizes”.

Aliás, é mais enfático ao dizer, no contexto dos macrossistemas, que “não havendo condição de paz e tranquilidade (…) a segurança e a confiança desapareceram”! Assim, falar deste tema nunca é redundante: confie em quem conhece e em quem mereça confiança.

E em quem podemos confiar?

Polet explica o que fez para que a empresa não só não fechasse as portas (como alguns oráculos previam) como também aumentasse em 44% os lucros num ano, mostrando as estratégias da confiança:

  • A organização passou de uma liderança de dois, para uma liderança de vinte;
  • Delineou-se um plano de três anos, produto a produto;
  • Foi contratado um director criativo para cada produto;
  • Visitou 168 das suas lojas, mundo afora, falou com 2.500 das 11 mil “pessoas trabalhando na Gucci” (é interessante notar que não utilizou termos como funcionário, servo, trabalhador ou empregado, mas: pessoa!!!);
  • Visitou 100 lojas da concorrência.

Em suma, fez aquilo que qualquer líder deveria ter consciência. Nas suas palavras:

Descobrir a companhia, a cultura, as pessoas, a concorrência, as regras do jogo. Regressei com um bom conhecimento e uma boa visão.

E, afinal, o que é um líder senão alguém que tem conhecimento da realidade actual e uma visão articulada de um futuro? O que é o líder senão uma pessoa em quem se pode confiar e que possui a capacidade aguçada de permitir que a sua equipa consiga ser constante. A pergunta fica no ar, meu caro leitor: o que é o líder… o cabo das tormentas ou o cabo da boa esperança? O porto seguro ou a tempestade impetuosa? O que é líder, é a pergunta que me faço… Quem sabe numa tese de doutoramento eu consiga perceber…

Etiquetas: , , , ,