quarta-feira, março 21, 2007

Novo Dia - Naw Ruz

No dia que correu hoje, em festa e alegria, comemorava-se, por todo o mundo, uma série de efemérides. Entre essas efemérides destaco algumas que me parecem totalmente inócuas e outras deveras pertinentes para o presente e o futuro de todo o Género Humano (o leitor que decida qual delas pertence a qual categoria).
  • Em 1804 o Código Napoleónico entra em vigor.
  • Em 1844 William Miller aguarda o novo advento do Cristo.
  • Em 1935 o Irã é criado e a Pérsia cessa de existir.
  • Em 1952 a segregacao racial torna-se oficial na África do Sul e em 1960 o Apertheid desponta com a morte injusta e unjustificada de 69 seres humanos.
  • Em 1960 Ayrton Senna nasce... no mesmo dia em que Pocahontas faleceu, em 1617.
O Brasil proclama o Dia Nacional da Terra,
A Namíbia celebra a sua independência,
A Organizacao Mundial da Saúde proclama o Dia do Sono,
A Unesco dedica o Dia da Poesia e o Dia do Teatro,
E... a Organizacao das Nações Unidas relembra a beleza vegetal no Dia Mundial das Florestas e tenta berrar com o Dia Internacional Contra a Discriminação Racial.

Pois bem, com o início do Ciclo de Áries, considerado o primeiro dos ciclos, e o completar do ciclo iniciado há um ano (e aliás como todos os ciclos) muita coisa mudou e muita mantém-se a mesma. O bem-estar da humanidade continua a não ser uma prioridade dos líderes do mundo, a sua paz e segurança continua a ser um desejo dos povos da Terra.

À medida que o tempo corre e a vida se renasce com a Primavera do 21 de Março, os cerca de 7 milhões de bahá'ís espalhados por todo o Globo celebram o Naw Ruz que, etimologicamente, Novo Dia (neste caso, o Novo Ano).

Das palavras dAquele que é considerado o exemplo de vida bahá'í, 'Abdu'-Bahá, proferidas na década de 1910 em Paris, destaco aquelas que me parecem que testemunham o significado deste Novo Dia que hoje despontou:

“Neste momento, o sol aparece no meridiano e dia e noite são iguais. Até o dia de hoje, o Pólo Norte estava escuro. Hoje o sol aprece no horizonte do Pólo Norte. Hoje o sol nasce e se põe na linha equatorial e os dois hemisférios são igualmente iluminados. Este dia sagrado, quando o sol ilumina igualmente a terra inteira, se chama o equinócio; e o equinócio é o símbolo do Manifestante de Deus. O Sol da Verdade se levanta no horizonte da Misericórdia Divina e dele emanam seus raios. Este dia é consagrado à comemoração disso. É o início da primavera. Quando o sol aparece no equinócio, provoca movimento em todas as coisas. O mundo mineral é posto em moção, as plantas começam a brotar, o deserto é transformado em planície, as árvores florescem e todas as coisas viventes respondem, inclusive os corpos dos animais e dos homens.
O subir do sol no equinócio é o símbolo da vida; da mesma forma, é o símbolo dos Divinos Manifestantes de Deus, pois a ascensão do Sol da Verdade no Céu da Bondade Divina estabeleceu o sinal de Vida para o mundo. A realidade humana começa a viver, nossos pensamentos são transformados e nossa inteligência é despertada. O Sol da Verdade dá Vida Eterna, assim como o sol físico é a causa da vida terrestre.
(...)
Ó vós filhos do Reino!
É o Ano Novo, isto é, o ciclo do ano se fecha. O ano é a expressão de um ciclo (do sol); mas agora é o começo de um ciclo de Realidade, um Novo Ciclo, um Novo Tempo e um Novo Ano. Portanto, é muito abençoado.
Desejo que essa bênção apareça e se manifeste nas faces e nas características dos crentes, para que eles, também, possam se tornar um novo povo e, tendo encontrado nova vida e sido batizados com fogo e espírito, possam fazer do mundo velho um novo mundo, a fim de que as velhas ideias desapareçam e novos pensamentos surjam (…); as velhas políticas, cujo alicerce é a guerra, sejam descartadas e políticas novas, fundamentadas na paz, ergam os estandartes da vitória; (…) que a nova voz brade e que esse novo som alcance os ouvidos, que o novo siga o novo."

Aos meus amigos bahá'ís e aos meus amigos muçulmanos, cristãos, judeus, budistas, zoroastrianos, hindús, agnósticos e ateus os meus desejos de um Feliz Naw Ruz.

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quinta-feira, março 08, 2007

Um passáro chamado Humanidade

“A humanidade assemelha-se a uma ave com duas asas – uma é o macho e a outra a fêmea. A ave, se ambas as asas não forem fortes e impelidas por uma força comum, não poderá voar para o céu”

(‘Abdu’l-Bahá; 1973. Selecção dos Escritos de ‘Abdu’l-Bahá. Trad. Leonora Armstrong, São Paulo, Editora Bahá’í do Brasil).


A emancipação da mulher e a conquista da total igualdade dos sexos é essencial para o progresso humano e a transformação da sociedade.

A desigualdade retarda não somente o avanço da mulher, mas o progresso de toda a espécie humana. E, mais grave, a nossa insistência em amputar os direitos de mais de metade da população mundial é não só um ultraje à dignidade da nossa espécie como um carcinoma que nos poderá comer por dentro, deixando sequelas irreparáveis no nosso tecido familiar, social e universal.

E, mais grave, ainda hoje, em muitas partes do mundo, as mulheres são vistas como frágeis e, portanto, inferiores. Diversas culturas de antanho e hodiernas abordam essa questão de diversas formas e, nós, humanos, ainda não nos demos conta de que todas dizem o mesmo!

Reparemos que segundo os hindus (religião de vários milénios de existência!), a população depende da castidade e fidelidade das mulheres e, tal como as crianças, bastante propensas a “serem desencaminhadas, as mulheres são similarmente propensas à degradação. Por isso as mulheres, assim como as crianças, precisam da constante protecção da família” (O Bhagavat-Gita (como ele é). 7ª ed., Trad. A. C. Prabhupáda, São Paulo, The Bhakdivendanta Book Trust). O próprio Krishna ao falar dos homens diz que eles se poderão ocupar “de trabalhos prejudiciais e horríveis destinados a destruir o mundo”, mas não diz isso das mulheres…

Já na teologia judaico-cristã, a mulher é aquela que concedeu “o direito à redenção, pela glorificação da virgindade de Maria” (Carr, A., 1997. A Mulher na Igreja. Temas e Debates), tendo a sua origem “da costela, que o senhor Deus tomou do homem” (Génesis, II:22).

E, é claro, não se poderia abordar este tema, sem falar no mundo islâmico. No Irão, por exemplo, um país que, infelizmente como tantos outros, as mulheres carecem de direitos básicos e simples (ainda que se sintam alguns progressos), surgiu uma jovem poetisa, Táhirih, que “marcou o [seu] século (…) com transcendente heroísmo”. Conjugava beleza, sabedoria e eloquência tais, que atraia multidões de homens e de mulheres e que inclusive levantou o interesse do próprio Xá da Pérsia.

Abandonando o uso do véu, a despeito do costume milenar de sua pátria (…) e participando de acolorados debates sobre temas místicos e espirituais, acumulou seguidas vitórias contra os expoentes masculinos mais representativos do pensamento de seu tempo”. Foi exactamente por isso que o Governo a aprisionou, a apredejou nas ruas, a exilou de cidade a cidade: por ela defender tão fervorosamente os direitos de suas irmãs, as mulheres. Finalmente, foi-lhe sentenciada a morte e, segundo testemunhos da época, ela foi incisiva: “Podeis matar-me, mas não podeis impedir a emancipação da mulher!” (Araújo, W., 1994. Nova Ordem Mundial – Novos Paradigmas. São Paulo, Editora Planeta Paz).

A inspiração de Táhirih provinha dos ensinamentos bahá’ís que com tanto ardor abraçara. “O Senhor fez a mulher e o homem para viverem unidos na mais íntima associação, e serem como uma só alma” (‘Abdu’l-Bahá, 1973. Selecção dos Escritos. São Paulo, Editora Bahá’í do Brasil). É como se incentivasse ao regresso àquele ser assexuada, ao qual foi retirado uma costela. Afirma-se que a “educação das meninas é até mais importante que a dos meninos, pois no devido tempo essas meninas serão mães, e assim as primeiras educadoras da próxima geração” (Esslemont, J.; 1975. Bahá’u’lláh e a Nova Era. Curitiba, Editora Bahá’í). Tentando como que adaptar-se aos requisitos da época em que surge, encontram-se no seus escritos sagrados:

Em harmonia ao espírito desta época, a mulher deve progredir e cumprir sua missão em todos os sectores da vida, tornando-se igual ao homem. Deve estar no mesmo nível que os homens e gozar de direitos iguais. Esta é minha mais ardente prece” (‘Abdu’l-Bahá, 1973. Selecção dos Escritos São Paulo, Editora Bahá’í do Brasil).

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