terça-feira, dezembro 26, 2006

E assim termina 2006…

E assim termina 2006, o ano que trouxe consigo grandes desafios e apazigou grandes tormentas. Foi um ano repleto do melhor e do pior da espécie humana, nas artes, na política, no humanismo. Foi o ano que nos fez sermos anjos entre demónios e diabos entre santos.

2006 foi o ano que me apresentou aos grandes criadores do cinema como Oliver Sacks e George Romero e, e fez-me encontrar esperança nas piores das circunstâncias em Cidade de Deus e O Jardineiro Fiel, de Fernando Meirelles, que nos permitem encontrar a beleza e a serenidade na corrupção e a paz na mesquinhez humana, sendo sereno sem ser monótono, triste sem ser piegas e realista sem tirar-nos a esperança!

Na televisão destaco Jack & Bobby, a história de como as decisões face os contra-tempos da vida nos podem permitir atingir o mais alto céu - transmitido pela RTP que teve corte de emissão num dos mais importantes episódios, sem retransmiti-lo a despeito de pedidos (alguém sabe como o Bobby morreu?, porque os meus impostos não me servem para demandar um bom serviço televisivo). A SIC e a Globo emitiram duas rainhas de audiências Alma Gémea - a luta infindável pelo amor eterno - e Sinhá Moça - a luta infindável pela igualdade entre os seres humanos.

2006 foi também o ano das mortes de Milosevic (sem certezas das circunstâncias), de Saddam (ainda sem certeza para a data), e de Pinochet (sem certeza de justiça) e do renascimento de Lula e Chavez, do sandinismo na Nicarágua, e da dupla vitória no México. Foi o ano que os governos do Irão e do Egipto voltaram a usar para pisar os bahá'ís, e o ano em que se puseram em causa os genocídios perpetrados na I Guerra Mundial e na II Guerra Mundial. O ano da guerra na Síria e em Israel, da queda dos republicanos estadunidenses, da alegada queda de Blair... Foi o ano da queda e da elevação!

Foi o ano que me permitiu ver a elevação dum sonho de antanho que era a Psicologia Actual - a primeira revista divulgativa de Psicologia em Portugal - e da minha Investigação final de Mestrado (com mudança de tema e dois meses para trabalhar o novo tema...). Três casais amigos se elevaram ao encontro derradeiro da entrega matrimonial e eu, agora, acrescento à minha lista de locais visitados o País Basco (Espanha/França) e Málaga (Espanha), tendo encontrado a Psicoterapia Positiva em Wiesbaden (Alemanha).

Mas o ano que está a despertar será um ano mais pleno, pois o somatório de seus numerais (2007) perfaz 9, o número completo e perfeito que abrange todos os números inferiores. Será em 2007 que reencontraremos o Sudão e o Chad e a Somália e a Etiópia nos cabeçalhos do mundo; veremos as constituições brasileira e venezuelana a caminho de alteração e a constituição europeia nalgum caminho; veremos se Yazdí continua com a sede de eliminar todo pós-islamismo; e se os ocidentais de segunda geração compreenderão que são resultado de uma belíssima transculturalidade... e se os nativos abrem os braços para o embelezamento de seus jardins monoculturais!

Quanto a mim... me verei, Deus queira, a trabalhar no que gosto e a fazer o que quero; a ver no cinema Os Transformers, O Homem Aranha 3 e A Teia de Carlota – desenhos animados que tanto me marcaram na infância – ao mesmo tempo que verei grandes obras como Freedom Writers, East of Eden e Next.

Verei um e cada filme que me transmita pessoas entre dois mundos: o mundo que sempre consideraram real, correcto e justo e o mundo que é de facto o real, incorrecto, injusto e hipócrita - e as decisões que terão que tomar entre uma e outra realidade... Verei nos telejornais a que custo se salvarão vidas na Europa e na América... Se será ao custo da brisa de jardineiros de vidas que não sabem a quem ser fiéis? A que custo se termina uma guerra na África ou na Ásia, ou que se perde nelas uma vida ou se renasce na própria vida? Estas são as perguntas que quero ver respondidas em 2007.

Este será o ano que me deixarei levar pela vida, em todas as suas dimensões e valências. 2007 será o ano que lerei ainda mais e escreverei ainda mais.

Miguel Garrido, director do meu mestrado, costumava dizer, em aula, que de nada serviam os cursos universitários e os títulos académicos se não lessemos 10 livros por ano. Eu fui para além disso: em 2006 terminei a leitura de vinte livros (outros tantos acompanhar-me-ão para terminarem em 2007). Foram três os géneros e três os autores que me maracaram este ano e que, mui provavelmente, marcar-me-ão em 2007: a mística pragmática de 'Abdu'l-Bahá em Palestras em Londres, o humanismo psicológico de Viktor Frankl em Voluntad de Sentido e o humanismo pragmático de Orhan Pamuk na sua Cidadela Branca. Do prémio Nobel Pamuk destaco a seguinte passagem, com a qual quero desejar um 2007 pleno de sentido a todos vocês:

O homem deve gostar da vida que escolheu ao ponto de acabar por assumi-la.

E vocês: quais foram as escolhas que fizeram em 2006, e como querem assumi-las em 2007?


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sexta-feira, dezembro 15, 2006

Se o Fênix tivesse um lar...

Se o Fênix tivesse um lar, chamar-se-ia Feníxia.
Não viveria na Fenícia do Líbano refém da política terrorista, nem a Babilónia iraquiana da Guerra Civil camuflada. Muito menos seria a Pérsia do Irão segregacionista.

Se o Fênix tivesse nome seria o nome da paz Shalom ou da saúde Sallam.
Não seria chamada Ahmadinejad que consegue, em um pouco menos de um ano, fazer retroceder a sua nação à crise política, ao embargo económico, à repressão religiosa.

Se o Fênix tivesse hoje que fazer uma escolha, escolheria para a sua Assembleia de Experts a Liberdade, o Progresso, a Civilização.
Não escolheria entre Rafsanjani – o anarquista sem rumo – ou Yazdi – a rumo da anarquia.

Se o Fênix falasse persa, chamar-se-ia Simorgh.
Não seria comparsa de um sistema que permite o extermínio dos bahá'ís no Irão.

Se o Fênix fosse africano, chamar-se-ia Bennu.
Não compactuaria com os massacres do Darfur, não aceitaria a destruição dos Tutsis.

Se o Fênix fosse europeu, seria mais elegante pois seria Phoenix.
Mas não se prenderia ao nome, ao referendo, ou ao alargamento para ajudar o mundo ao seu redor.

Se o Fênix fosse das Américas, seria progressista e moderno.
Não se cristalizaria na dicotomia mundial entre direitas e esquerdas perdidas.

Se o Fênix existisse…
Ai, se o Fênix existisse,
Renasceria de suas próprias cinzas, levantaria ao cair do primeiro voo, voaria para o mais alto céu.

Se o Fênix fosse real não jazeria no lodaçal de suas próprias cinzas.


Quando iremos libertar o Fênix do amor das jaulas da opressão? Quando os direitos de todos os fenixianos serão cumpridos? Quando os humanos terão verdadeiros direitos para poderem usufruir de seus deveres? Quando as crises se tornarão vitórias e a desintegração se converterá em integração?

Quando?

A minha prece – essa sim – será ad aeternum, pois não sei quando chegará esse dia…

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terça-feira, dezembro 05, 2006

Três Dimensões Humanas em Fórum Mundial

Conforme explica Effendi (1971), “possuímos três aspectos da nossa humanidade, por assim dizer, um corpo, uma mente e uma identidade imortal – alma ou espírito”. O ser humano é, assim, detentor de uma tríplice realidade. Somos a agregação dum corpo, duma psique e dum espírito que não é mais que é a pessoa na sua “peculiaridade e singularidade” (Guberman e Soto, 2005), a sua “dimensão mais íntima, genuína, constitutiva e distintiva” (Freire, 2002). É da conjuntura destas três realidades que surgem as faculdades racionais, como a inteligência e a vontade, que nos permitem agir em verdadeira liberdade, transpondo as condicionantes que nos circundam.

As afirmações precedentes são retiradas (à excepção da primeira) dum movimento da psicologia que reitera a integração da humanidade, e a humanização da existência. É desta vontade que surgem iniciativas que merecem o louvor e o elogio de qualquer observador perspicaz.

Começa hoje, em Brasília, o 1º FÓRUM ESPIRITUAL MUNDIAL, cujo lema é “Valorizando a diversidade para a construção de uma solidariedade planetária”. Do programa que terminará no dia 10 (no qual se celebram os Direitos Humanos) destaco:

  • EDUCAÇÃO DE VALORES (6/12). Os valores que são os objectivos pelos quais lutamos, as metas que queremos atingir: o sangue que nos corre nas veias e nos permite viver;
  • POLÍTICA E HUMANISMO (7/12), A ECONOMIA A SERVIÇO DA JUSTIÇA SOCIAL (9/12) e A RESPONSABILIDADE INDIVIDUAL NA CONSTRUÇÃO DE UM MUNDO DE PAZ (7/12). A verdade é que através do poder político e económico muita coisa pode mudar, mas somente quando nós nos levantarmos, impavidamente, e deixarmos de ver a vida passar à nossa frente num ecrã imagético, poderemos permitir a mudança;
  • DIÁLOGO ENTRE AS RELIGIÕES PARA A PAZ MUNDIAL (7/12) e VALORIZAÇÃO DA DIVERSIDADE RELIGIOSA (8/12). Dos meus favoritos! Como é que no Brasil uma actividade destas consegue conciliar o Hinduísmo, o Budismo, o Cristianismo, o Islão e a Fé Bahá’í? Quem sabe, é porque já se percebeu que todos observam a mesma Realidade, mas cada um vê com a lente que possui;
  • VISÃO HUMANISTA DA VIDA: PERCEPÇÃO DA INTERDEPENDÊNCIA (10/12) e, é claro, SAÚDE E ESPIRITUALIDADE. O PAPEL DA PSICOLOGIA TRANSPESSOAL (8/12). Qual é o papel dos logos da psique, dos doutos na alma, dos psico-especialistas que também precisam de se lembrar que, antes de serem especialistas, são seres humanos com um papel fundamental na re-humanização da sua própria espécie?

Quem não puder ir, mas estiver interessado nos temas, poderá ganhar imenso em conhecer qualquer um dos seguintes prelectores do evento que sugiro: um dos meus autores favoritos, Leonardo Boff (7/12); o psicólogo ao qual teria muita honra em algum dia chamar de colega Roberto Crema (6/12); e o meu querido amigo, o jornalista Washington Araújo (10/12) – três cidadãos do mundo, por excelência!

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